quinta-feira, 2 de abril de 2020

A QUARENTENA E O FUTURO DA EDUCAÇÃO



Desde 2013 eu debato uma situação hipotética - utópica, óbvio - de fechar todas as escolas para começarmos a repensar a educação, e, depois de 1 ou 2 anos, voltarmos para fazer tudo diferente. Nesse tempo os professores iriam para escola se preparar e pensar nos rumos da Educação, com ajuda de especialistas. Nesse tempo se economizaria dinheiro com água, luz, papel, livro didático, transporte escolar, milhões de reais que poderiam ser destinados para uma nova estrutura. A ironia é que haveria o risco de todo mundo perceber que a escola não está fazendo falta e não voltar.

Na realidade, a quarentena nos ensinou que a escola tem um triplo papel que tem mais relação com outras mazelas da sociedade do que com educação. A primeira função da escola é a de segurança alimentar, onde crianças e adolescentes conseguem ter comida e crescre saudáveis; a segunda função da escola é ter um local seguro e com ambiente adequado para os pais deixarem as crianças enquanto trabalham ou descansam, permitindo aos adultos um período de lazer. A terceira função é ter um local privilegiado para programas de governo contra epidemias, cáries, etc. Parece-me claro que, num período com esses, o professor faz menos falta que médicos, engenheiros, lixeiros ou até mesmo políticos - Crivella supostamente infectado com o vírus precisou ser prioritariamente atendido: urgência que ninguém advogaria para um professor.

É claro que o professor é importante e após a quarentena isso vai ficar perceptível. Até mesmo para entender esse momento, que um vírus para o mundo globalizado e que se supõe que mais ameaças podem vir e não há estrutura para contê-la - inúmeras reflexões devem ser feitas e são os professores que precisam conduzir. Ao mesmo tempo houve uma redução drástica de acidentes e mortes no trânsito e um pequeno abaixamento na temperatura global - saudável ao meio ambiente - com simples 15 dias parados. Sem contar as tréguas nas guerras, o aumento crescente da percepção da importância do esporte, do lazer e da cultura e os momentos coletivos de reflexão sobre situações da vida e do mundo. O mundo vai sofrer, mais vai aprender muito, inclusive a ponderar sobre a importância de um estado forte e políticos corajosos - não é o Mercado que vais nos salvar do coronavírus. Ele poderá nos matar.

Sobre a educação eu acredito que haverá uma lição muito grande de que com o advento da Internet dá para estudar em casa. Muitos colegas meus entendem que será oportunismo para implantar uma educação a distância barata e econômica - e parte do pensamento deles é sobre uma concepção de sagrado que envolve a escola física, talvez um atavismo compreensível. A verdade é que educação formal não se faz apenas com um professor em sala de aula, ainda que esse seja um momento muito forte. O nosso sistema educação não funciona, fracassou, e nunca se mostrou eficiente em lugar algum - condenando pessoas pobres interessadas em aprender, com sede de saber, para um nivelamento intelectual de quem não estudou ou não quer estudar. A escola atual acaba enganando, e criando uma falsa percepção de aprendizado, e, temos preconceitos com a Educação a Distância.

A Educação a Distância não se compara com plataformas complementares de instituições públicas ou com essas anhangueras e outras fábricas de venda de diploma. Tampouco se compara com muitos cursos federais. Trata-se de uma ressignificação do papel do professor, com uso da Internet. Há muito preconceito com a modalidade e a crença de que ela substituirá o professor.

A Educação a Distância é o verdadeiro caminho para o futuro da Educação, aliada com momentos presenciais. Ela ressignifica o professor, que deixa de ser apenas passador de conteúdo para ser um orientador dialógico com os alunos. Esses novos momentos pós Coronavírus serão inicialmente de improvisos fajutos para cumprir a Lei, de mecanismos oportunistas para políticos economizarem e corporações educacionais lucrarem, mas, aos poucos, os professores vão se conscientizar da importância e da eficiência e governos vão entender a importância e o papel do professor nesses mecanismos: a escola será 2 ou 3 horas por dia, ou mesmo em encontros mais longos semanais - com muita economia de dinheiro e possibilidade de aumentar salário de professores, que aí sim, poderão educar de verdade

Otávio Luciano Camargo Sales de Magalhães

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